"não se escreve com a caneta e a mão, mas com as idéias e imaginação" João dos Santos, psiquiatra infantil ( 1913 - 87) Como arte educador, arteterapeuta e artista plástico, conhecedor profundo dos benefícios da arte e das importantes transformações que esta é capaz de realizar no ser humano, assombra-me muito o descaso com que a arte é tratada no ambiente escolar. Arte na escola é sinônimo de recreação ou anarquia e o professor de arte, este é visto e tratado como um ser estranho que ninguém sabe ao certo como lidar, lembrado apenas em datas comemorativas, quando suas habilidades são requisitadas para "decorar", "enfeitar", "ensaiar"... As escolas, por sua vez, não possuem espaço adequado nem material didático suficiente para que se realize as atividades básicas dentro da disciplina e quando o possuem, as boas intenções do arte-educador naufragam em um mar de contratempos que acabam, entre outras coisas, por impedir a apropriação do espaço, requisito indispensável para que a arte cumpra seu papel transformador.
O Estado tem tido algumas iniciativas, através da Proposta Curricular, que visam um melhor aproveitamento da disciplina e sua valorização através do desenvolvimento de novas habilidades e competências que abrangem dança, teatro, música e artes visuais. É certo que faltam ainda alguns ajustes para que a Proposta consiga despertar o interesse de um número maior de educandos, pois em alguns momentos temos a impressão de que foi elaborada por profissionais que desconhecem a atual realidade da educação brasileira. Mas já é um ótimo começo que poderia crescer muito se algumas escolas não insistissem em tratar a arte e o arte-educador como algo desnecessário.
Não credito esse problema a essa ou aquela escola, a esse ou aquele diretor, mas a todo um sistema social que desvaloriza a emoção em detrimento da razão, quando na verdade deveria haver um equilíbrio entre esses dois parâmetros. O que vemos no ambiente escolar nada mais é que o reflexo de uma sociedade culturalmente subdesenvolvida, que valoriza mais o pão que a poesia, que se preocupa em alimentar o corpo como forma de sobreviência biológica e se esquece de alimentar a alma, importante fator de sobrevência cultural e social.
Temos notícias de que um ou outro arte-educador consegue desempenhar suas funções de maneira satisfatória, o que é louvável, mas ainda falta muito para que a arte seja vista, pela sociedade e pela escola como um todo, como uma importante ferramente na formação emocional e intelectual dos educandos. É através da arte e dos seus procedimentos que a criança desenvolve a imaginação, importante fator já na Antiguidade utilizado na apendizagem. Segundo o dicionário Aurélio, imaginação é a faculdade de representar objetos pelo pensamento, faculdade de inventar, criar, conceber. Imaginar é "abstrair" (do latim abstrahere = arrancar). É através da imaginação que a criança "arranca" sentido do concreto, adquirindo a capacidade de simbolizar, criando dentro de si um universo particular, com mecanismos próprios, capaz de assimilar conceitos e inventar formas pessoais de "aprender". Não podemos esquecer também do papel social da arte como importante fator na formação do cidadão pensante, crítico, capaz de produzir e preservar a cultura.
Assim sendo, acredito que o sistema educacional, tão afeito à reformas, devesse olhar com mais atençao o cumprimento de medidas que visem um melhor aproveitamento da disciplina dentro das escolas, preparando inclusive a equipe diretiva para a compreensão da importância da arte e do arte-educador na formação do educando.
Carlos Miguel Fagundes
08 / 06 / 2009