Todo ser humano é dotado de potencial criativo, em menor ou maior grau, o que é determinado pelo meio. A imposição excessiva de regras, certamente afeta o afloramento da criatividade, impedindo o desenvolvimento do potencial criativo. Um dos objetivos da regra é impedir a ocorrência do erro. Fica assim clara a importância do erro no ato criativo. É o erro que possibilita a formulação de hipóteses e conseqüentemente o encontro de novas soluções.
A criatividade só se manifesta durante o ócio ou nos momentos de lazer, quando o cérebro está em repouso, descansando. Portanto, trabalhar sob pressão é uma das maneiras de tolher a criatividade. Rollo May diz o seguinte:
Se o indivíduo é muito rígido, dogmático, por demais comprometido com as conclusões prévias, jamais permitirá que esse elemento atinja o consciente; não admitirá nunca a existência de um conhecimento que existe em outro plano, no seu interior. Mas a percepção súbita só pode vir à tona quando há um relaxamento da tensão ou da aplicação consciente. Por isso o inconsciente só atravessa a barreira se o trabalho intenso for alterado com descanso (...). (MAY, 1975, p. 62).
Nos dias atuais, movido à novas idéias, onde novos produtos e novas invenções movimentam bilhões de dólares, a criatividade, mais do que em qualquer outra época, tem sido altamente valorizada. Grandes empresas buscam em seus funcionários, além das potencialidades necessárias à função desempenhada, principalmente a criatividade que é, hoje em dia, um dos maiores bens do mundo corporativo. A criatividade é o motor de empresas bem sucedidas. O que se vê é que esta não é característica somente de grandes artistas e nem tem a sua aplicação limitada ao mundo das artes. Segundo Rollo May,
(...) a criatividade está no trabalho do cientista; como no do artista; do pensador e do esteta; sem esquecer os capitães da tecnologia moderna, e o relacionamento normal entre mãe e filho. A criatividade, como define Webster, é basicamente o processo de fazer, de dar vida. (MAY, 1975, p. 39) .
Um dos motivos que tornam a criatividade um dos maiores bens do mundo corporativo é justamente a robotização, a mecanização, a uniformização que o mundo atingiu nas últimas décadas, através principalmente da mídia, que prega uma igualdade negativa e efêmera, baseada na aquisição de bens de consumo e de idéias prontas. Assim, o indivíduo afasta-se cada vez mais da sua essência, abdicando de sua individualidade em prol da coletividade.
Destaca-se quem consegue preservar idéias próprias, ou seja, o indivíduo criativo. A psicóloga Maria Inês Felipe, mestre em criatividade pela Universidade de Santiago de Compostela / Espanha, e consultora de empresas, fala sobre a importância de exercitar a criatividade e diz que esta é um comportamento que pode ser aprendido, uma vez que todos são criativos, deixando de sê-lo por questões familiares, educacionais e empresariais. Compara o desenvolvimento da criatividade com o desenvolvimento físico. Para Maria Inês Felipe “praticar o uso da criatividade eleva a produção, abaixa os custos, aumenta a satisfação do cliente a auto-estima do trabalhador” (FELIPE, 2006, página de Internet). Segundo ela, a criatividade possibilita contribuir socialmente neste mundo de transformações, criando novos produtos,serviços e gerando empregos. No campo pessoal, a criatividade, nas suas diversas formas, significa saúde emocional e conseqüentemente física. Rollo May acredita que o processo criativo deve ser encarado como o mais alto grau de saúde emocional, a expressão de pessoas normais no ato de atingir a realidade.
Segundo o filósofo Georges Canguilhem, a doença é uma vida pobre, impossibilidade da invenção, espaço da monotonia e da repetição de normas limitadas e constrangedoras, já a saúde é uma vida capaz de ultrapassar a norma medíocre do normal momentâneo, a possibilidade de tolerar infrações e de instituir novas normas em situações novas.
Na literatura encontram-se vários referenciais relacionando criatividade e saúde. Em seu livro Rollo May cita um exemplo que demonstra a importância da criatividade para a saúde mental. Vejamos: O Dr. Kurt Goldstein, quando ocupava o cargo de diretor de um grande hospital para doentes mentais, na Alemanha, teve muitos soldados como pacientes, durante a guerra. Segundo ele, esses homens sofriam de limitação radical da capacidade de imaginação. Observou que mantinham armários sempre arrumados do mesmo modo,os sapatos na mesma posição,as camisas no mesmo lugar. Sempre que o armário era desarrumado,o paciente entrava em pânico. Não conseguia se orientar, não conseguia imaginar uma nova “forma” para trazer ordem ao caos. (...) Sua capacidade para o pensamento abstrato, para transcender os fatos imediatos em termos do possível - exatamente o que chamo, neste contexto, de imaginação – foi severamente danificada. Sente-se incapaz de adaptar o ambiente às suas necessidades. (MAY, 1975, p. 124)
O exemplo acima ilustra as implicações da falta de imaginação no dia-a-dia, na resolução de imprevistos e na adaptação ao meio, adaptação esta necessária na mediação de conflitos pessoais internos e externos. A força criadora é responsável pelo desenvolvimento da personalidade como um todo.
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