segunda-feira, 30 de julho de 2012

O QUE É ARTETERAPIA?





Arteterapia é a utilização de técnicas e recursos artísticos (tintas, pincéis, papéis, argila, etc.) com finalidades psicoterapêuticas, onde o paciente tem a possibilidade de contatar o seu mundo interno e externo, expressando assim suas sensações, seus pensamentos, atitudes e emoções, tornando-os passíveis de compreensão e transformação. A Arteterapia parte do princípio freudiano de que as imagens escapam do inconsciente com muito mais facilidade que as palavras, não sofrendo a censura da mente. Numa sessão de psicoterapia, o paciente se encontra muitas vezes bloqueado, com dificuldade de expressar verbalmente suas emoções e vivências. Desse modo, a expressão artística possibilita que ele, através de sua expressão, desenvolva a verbalização ao explicar suas produções, abrindo canais de comunicação e aumentando a auto-estima. Assim, expressão artística e verbalização se complementam na busca do equilíbrio, permitindo várias possibilidades. segundo Freud,

“Freqüentemente experienciamos o sonho em imagens visuais; sentimentos e pensamentos podem entremear-se neles também, mas geralmente aparecem em imagens. Parte da dificuldade de se estimar, explicar sonhos, se deve à nossa necessidade de traduzir estas imagens em palavras. Muitas vezes as pessoas que sonharam dizem que poderiam com mais facilidade desenhá-los que contá-los em palavras” ( FREUD apud ANDRADE, 1995, p.43 ). 

Outras formas de manifestações artísticas também podem ser utilizadas como instrumento de comunicação entre paciente e terapeuta, como a dança, a música e até a escrita.
A utilização de recursos artísticos visa a expressão pura do verdadeiro eu, chamado em psicologia de “self”, onde o enfoque não é a estética nem tampouco o aprimoramento técnico, uma vez que o processo de elaboração de um trabalho artístico se mostra tão importante quanto o produto final.
Para o arteterapeuta não existe uma linha rígida a ser seguida, devendo este contar com a própria experiência aliada à intuição, além de ter conhecimentos sólidos sobre técnicas e linguagens artísticas e sobre a psique humana. 
Não existe contra-indicação para a aplicação da arteterapia, podendo esta ser aplicada individualmente ou em grupos em pessoas de qualquer idade. Seu principal objetivo é a manutenção ou o restabelecimento da saúde emocional através do desenvolvimento da criatividade, possibilitando a busca do auto-conhecimento através da integração do consciente e do inconsciente. Segundo a AATA, American Art Therapy Association, fundada em 1969, lemos o seguinte:

“Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano. Ela oferece oportunidades de exploração de problemas e de potencialidades pessoais por meio da expressão verbal e não verbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos e emocionais, bem como a aprendizagem de habilidades, por meio de experiências terapêuticas com linguagens artísticas variadas.
Ainda que as formas visuais de expressão tenham sido básicas nas sociedades desde que existe história registrada, a Arteterapia surgiu como profissão na década de 30. A terapia por meio das expressões artísticas reconhece tanto os processos artísticos como as formas, os conteúdos e as associações, como reflexos de desenvolvimento, habilidades, personalidade, interesses e preocupações do paciente. O uso da arte como terapia implica que o processo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos emocionais, como de facilitar a autopercepção e o desenvolvimento pessoal.” (AATA, 2003)

Atualmente, com a descoberta da inteligência emocional, a valorização da subjetividade e o reconhecimento da importância da multidisciplinaridade, a arteterapia tem sido cada vez mais aceita em diversas instituições, como escolas, hospitais e empresas, sempre visando o desenvolvimento das potencialidades criativas do ser humano como elemento primordial para a saúde emocional. Um arteterapeuta deve possuir conhecimentos aprofundados de técnicas artísticas, pois essas é que possibilitam a comunicação deste com o paciente, além de conhecimentos aprofundados sobre o funcionamento da mente humana. 

                                             Carlos Miguel Fagundes - arte-educador e arteterapeuta



Mais informações:
 http://www.arteeterapia.com.br/
 http://www.artezen.org/arteterapeuta.html
 http://sedes.org.br/site/arteterapia/o_que_e_arteterapia 

                                 




sexta-feira, 8 de junho de 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012


CRÔNICAS DE SALA DE AULA



            Acuado num canto, aguardo ansioso o momento de dirigir-me ao campo de batalha. Já prevendo o que me aguarda, um desespero silencioso toma conta de mim. Esfrego as mãos com força, fecho os olhos, caminho sem rumo pela sala numa fuga inútil e desesperada. Sento-me novamente. Tento prestar atenção à conversa dos colegas: amenidades, piadas sem graça entrecortada por risinhos nervosos, relatos repetitivos ...nada é capaz de fazer-me esquecer a fúria do leão feroz que me aguarda. Lá fora, o inimigo grita descontrolado intimidando os adversários.
Dado o sinal, é chegado o momento inevitável. Tenso, empunho minhas armas e caminhamos juntos, eu e os colegas, em direção ao sacrifício.
Lentamente, entre gritos e esbarrões vou vencendo o caminho que me leva à arena. Ganho o corredor já vazio e sua longa extensão me parece curta. A proposital lentidão dos passos só faz aumentar minha ansiedade. Sem saída, chego, enfim, à sala de aula.
            Paro na porta tentando me fazer notar, hesitando entre caminhar até a mesa e assumir o meu posto ou desertar, abandonando a obrigação que me foi destinada. A responsabilidade e as contas a pagar falam mais alto. Caminho até a mesa, repouso minhas armas (giz, diário, livros didáticos, textos, desenhos e um pouco de coragem ) e faço votos de que uma delas seja minha salvação no dia de hoje. Cumprimento com um boa tarde sem resposta e observo uma meia dúzia de alunos que, deslocados, me olham estarrecidos e solidários, compreendendo minha situação.
A imagem do ambiente, com suas figuras caricaturais me remete a uma obra de Heronimus Bosch, o pintor do caos. Em meio a uma nuvem de poeira provocada por duas criaturas que varrem a sala com violência enquanto distribuem vassouradas aos transeuntes, três seres indefinidos se enroscam pelo châo aos gritos, e o restante da sala se digladia entre gemidos, choramingos e gargalhadas, completando as brincadeiras e agressões do recreio. Objetos e bolas de papel voam pela sala. Um avião passa à minha frente com destino ignorado, enquanto imagino outros destinos - londres...cancun...ilha de caras...-um pequeno grupo, que mais parece uma multidão, me bombardeia com perguntas, reclamações e exigências, enquanto disputam comigo o exíguo espaço da mesa. Peço licença, já contendo a irritação, e começo a apagar a lousa silenciosamente, lentamente, simulando uma calma que, sinto, acabará antes da minha tarefa. Mentalmente faço cálculos: quanto tempo para terminar a aula que mal começou, quanto tempo para as férias, quanto tempo para a aposentadoria, quanta grana falta para cobrir as despesas do mês...enquanto isso a algazarra continua. Um aluno me interrompe com violência enquanto choraminga _me acertaram uma tesourada nas costas _ já visivemlamete irritado, viro-me antes que me aconteça o mesmo e, em alto e bom som, peço silêncio. Ando pela sala ordenando polida e energicamente _ a princípio _: sente-se quem está de pé, levante-se quem está deitado, saiam da porta, me respeite ou encaminho para a diretoria, desça já da janela antes que caia e quebre uma perna, não rabisquem a lousa..._ e já descontrolado no final: tire a mão dos meus diários, deslige o celular, pelo amor de Deus, ai eu vou enlouquecer...
Com um nó na garganta, os dentes cerrados, caminho até a mesa, tentando impor alguma autoridade. Bato algumas vezes pedindo mais uma vez silêncio enquanto uma enxaqueca anuncia a sua indesejável chegada. Com a pressão povavelmente no teto e a auto-estima no chão, enfim inicio a aula, já sem energias, confuso sobre qual função assumir para tentar colocar um fim à desordem: professor, educador, tirano, amigo, psicólogo, psiquiatra?...ou serial killer? No meu desespero, torço para que alguma força superior e caridosa avance misteriosamente os ponteiros do relógio e que a sirene sinalize imediatamente o final da batalha. Mera ilusão. O martírio está apenas começando. Aproveito uma “bolha” inesperada de silêncio e inicio a explicação. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito vezes... e ainda assim a grande maioria ainda não ouviu e se ouviu não compreendeu. Lá no fundo da minha alma soa um mantra: “meus deus, o que que eu tô fazendo aqui...meu deus, o que que eu tô fazendo aqui... meu deus, o que que eu tô fazendo aqui...” e finalmente deus responde à minha pergunta através de um ser que aparece à minha frente perguntando:_ professor de que mesmo? E outro manta me vem como resposta: estou aqui enlouquecendo, estou aqui pagando pecados, estou aqui redimindo vidas passadas...
Perco o fio de paciência que me resta e desabafo: _“eu não aguento mais”. Mais 5 minutos e eu caio duro! Desta vez a força superior e caridosa ouve minhas preces, acredita na minha premissa e a sirene soa, finalizando o fim da hedionda batalha. Junto minhas armas de forma desordenada e saio em fuga, apressado, olhando para traz temeroso, persguido por uma legião descontrolada que tenta sugar minhas últimas energias. Sobre a mesa esqueço parte da minha sanidade, um pouco dos meus sonhos, bastante dos meus ideais. Comigo, trago um pouco de frustação, desânimo e incertezas. 
 Meu Deus, até quando? 


crônica dedicada ao 6º ano C 

sábado, 19 de maio de 2012

OBRA PREMIADA OM MEDALHA DE PRATA ( 2º LUGAR ) NO 4º SALÃO DE ARTE DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. 


A 0BRA É COMPOSTA DE 02 FRONHAS CONTENDO DECALQUES DAS FOTOS DOS MEUS PAIS, DESENHOS, PINTURA E BORDADOS E FOI EXIBIDA DEPENDURADA EM UM VARAL. 




TROFEU DE PREMIAÇÃO

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

POESIA - APENAS VIVO

NÃO VIVO PARA AGRADAR

NEM PARA AGREDIR

NÃO VIVO PARA TRANSGREDIR

NEM PARA COMPETIR

APENAS VIVO

COMO A FOLHA QUE,

CUMPRIDO O SEU CICLO,

SE DESPRENDE DO GALHO

SEM CERIMÔNIA

E FLUTUA RESIGNADA E PODEROSA EM

DIREÇÃO AO SEU DESTINO,

TRAZENDO NOS VEIOS

A MAGIA SILENCIOSA DA VIDA!

carlos miguel fagundes
14/11/2009 - 00:07h



segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ARTE NA PSIQUIATRIA: A REINVENÇÃO DO EU

NOME DA OFICINA: CONSTRUÇÃO DE UM AMULETO PESSOAL

Autoria: Carlos Miguel Fagundes

Material: massa de bisquit, tinta acrílica, papel, creme para as mãos sem silicone ( o mesmo utilizado na confecção da massa), palitos de churrasco, carimbos para bisquit, cordões de algodão ou couro próprios para bijouteria.

Esta oficina tem por objetivo fortalcer no participante o sentido de poder, despertando suas potencialidades de cura e equilíbrio através da materialização de seus desejos de paz, saúde, liberdade, etc...
REALIZAÇÃO: Iniciei como sempre pela recepção das participantes e em seguida com um exercício respiratório básico, uma vez que a oficina prática tomaria mais tempo que o habitual. Depois, reunidos em torno da mesa de trabalho, pedi que cada uma se concentrasse no que desejariam para si naquele momento. Enquanto isso entreguei uma pequena tira de papel para cada uma e pedi que anotassem o que desejaram. Conversamos a respeito dos desejos expressos e o que motivava esse desejo. Foi um momento importante de conexão consigo próprio, de apropriação do eu.
Em seguida, distribui um pedaço de massa de bisquit para cada participante e pedi que a sentissem, transmitindo para esta a sua energia. Depois, pedi que embebessem a pequena tirinha de papel no creme para mãos e incorporassem-o à massa, amassando até que o papel sumisse por completo. Então orientei-as a modelar um pingente e algumas contas com essa massa, decorando-o como desejassem, fosse com palito de churrasco ou com o carimbo próprio para bisquit. Na sessão, seguinte, uma semana depois, foi a hora da pintura, onde todas se soltaram com alegria. Enfim montaram o colar e dependuraram-no cerimoniosamente no colo.

ANÁLISE: pude observar com satistação que aquele grupo de mulhseres saiu da oficina com alegria estampada no rosto. São mães, esposas, filhas; algumas abandonadas pela família e pela sociedade, que têm encontrado nas oficinas de Arteterapia momentos de reencontro consigo próprias, de força interior. Pude perceber que trocaram a apreensão, a desconfiança, a ansiedade próprios de pessoas nessas condições por um verdadeiro amuleto de alegria, serenidade, auto-estima e auto-confiança. Mais uma vez descobriram o poder de "ser humano".


RESULTADOS:

















sábado, 7 de novembro de 2009

POESIA - QUEM SOU EU?

quem sou eu?
a criança que não cresceu
a vida que não viveu
guardada como cristal raro
aguardando o melhor momento
que não chegou
eterno ensaio,
poses na frente do espelho,
os mesmos dramas repetidos à exaustão
abrem-se as cortinas
agora é tarde
o público, cansado, se retirou
sem saber que o show se inverteu
sem saber que a platéia fui eu

carlos miguel fagundes
07/11/2009 - 1:20h

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ARTE NA PSIQUIATRIA: A REINVENÇÃO DO EU



Nome da oficina: dança dos pincéಇಸ್
Esta sessão contou com 10 participantes, entre as quais algumas que compareceram pela primeira vez. A frequência é rotativa dependendo muito do estado de cada uma no momento.

Como sempre, iniciei com a recepção das internas, me apresentei às novas participantes e iniciamos a costumeira roda de conversa, momento em que, unidas, se encorajam a verbalizar as preocupações, as fraquezas, as tristezas, as alegrias e expectativas de cada uma.
Partimos então para o relaxamento, iniciando com exercícios respiratórios, exercícios de alongamento e exercícios de self-healing. Fizemos uma dinâmica* que resultou em momentos edificantes de emoção e ternura. Em seguida, dançamos ao som de uma música alegre e partimos para a parte plástica, com a dança dos pincéis* onde utilizei a mesma música alegre. (ver resultado abaixo). No final, fecharam a sesãso com palavras verdadeiras como: gostoso, expressei o que sinto, amei, muito bom, esperança, amor e felicidade.


Análise: cada dia me convenço mais da importância do trabalho corporal antes da expressão plástica, pois assim o participante tem uma melhor noção de si mesmo, e no caso delas, que se encontram alienadas, uma maior apropriação de si próprias. A parte plástica funciona como uma extensão do eu, exteriorizando de forma mais aprofundada e sólida os conteúdos internos.


*Dinâmica utilizada: primeiro pedi que se concentrassem ao som de música relaxante e decidissem o que queriam naquele momento que as fariam mais felizes. Depois cada uma verbalizou o que desejou para si e conversamos um pouco a respeito. Paz, saúde e liberdade foram as palavras mais ditas. Em seguida, caminharam pelo espaço ao som da mesma música ainda e, quando interrompida a música, abraçavam a colega mais próxima e desejavam para ela o que queriam para si.


*Expressão plastica: A orientação era para que trabalhassem ao som de música alegre, dançando com o corpo e com os pincéis sobre o papel. Trabalharam com alegria e desejo.

























terça-feira, 15 de setembro de 2009

ORAÇÃO PRA MIM MESMO

Livrai-me Senhor,
da monstruosa rotina
que endurece,
embrutece e alucina

Dai-me alento!
livra-me do amargo ácido
do arrependimento!

Perdoai
as pequenas tragédias provocadas,
as pequenas atrocidades
ritualmente praticadas
com solenidade

é só hábito
não é maldade

Livrai-me da privação
do dinheiro,
dos sentidos,
da razão

Tende piedade
afasta a mediocridade,
os dias iguais,
a falta de cor
a vulgaridade

Me liberta do passado presente
e do futuro ausente
dos dias estressantes
dos domingos cinzentos

salve-me da sina
de ensinar o que não se ensina

tenha pena de mim
cerrai a cortina
do pesadelo sem fim

Amém!

Carlos miguel Fagundes
16/09/2009 - 00:46min.












quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ARTE NA PSIQUIATRIA: A REINVENÇÃO DO EU

Há algumas semanas, motivado tanto pela necessidade de aperfeiçoar meus conhecimentos como pela necessidade de dispor minhas habilidades para o bem estar do próximo, iniciei trabalho voluntário (oficinas arteterapêuticas) com um grupo de internas de um hospital psiquiátrico.
Desde sempre, ainda que intuitivamente, utilizei o fazer artístico em favor próprio, como forma de me encontrar e de expressar minha identidade no mundo. E desde sempre tem dado certo. Se tenho o auto-conhecimento necessário para lidar tranquilamente com minhas dificuldades, devo muito à livre expressão. Primeiro como autodidata, me graduei posteriormente como Arte-educador habilitado em Artes plásticas e mais recentemente, em busca de novas e mais práticas aplicações para os processos artísticos, me especializei em Arteterapia. E é na qualidade de Arteterapeuta e Arte-educador que, uma vez por semana, me reúno com o grupo citado acima para a realização de oficinas arteterapêuticas e arte-educativas, e passo aqui a publicar informalmente o andamento dessas oficinas. São oficinas que visam a busca do equilíbrio através da expressão artística livre, entre elas: pintura, desenho, modelagem, monotipia, produção de textos, dança e jogos teatrais. As técnicas vão sendo aplicadas de acordo com a necessidade e dinâmica do grupo, sempre levando em consideração as limitações físicas e cognitivas das participantes.

A impressão que tive do hospital psiquiátrico, o qual só conhecia da rua, foi de total estranhamento, estranhamento esse reforçado pelas inúmeras informações preconceituosas que tinha a respeito. Hospitais psiquiátricos sempre foram lugares esquecidos pela sociedade e ainda hoje, mesmo à luz dos novos paradigmas em tratamento de sofrimento mental, despertam o preconceito milenar da população.

As oficinas foram oferecidas, alguns minutos antes do início da primeira, a quem quer que se interessasse. Assim as expectativas das participantes seriam menores, fator importante para que não houvesse tensões. Eu não sabia o que encontraria e a maneira de me preparar para esta primeira sessão foi não me preparando, ou seja, me esvaziando de expectativas. Ao contrário do que tinham me alertado, as participantes me pareceram pessoas como outras quaisquer se considerarmos que todos temos problemas. A diferença é que os problemas delas são mais perceptíveis. Nota-se de imediato, na maioria, um comprometimento da razão. Os conteúdos inconscientes se fazem mais presente que os conteúdos conscientes. Segundo Jung, o transtorno mental nada mais é que a invasão do consciente pelo inconsciente, fenômeno que acontece em diferentes graus, a depender da fragiloidade do ego do indivíduo. Entre as partipantes há casos de depressão e agressividade sem motivos aparentes, tentativa de suicídio, ansiedade, dependência química entre outros.

As oficinas iniciam-se sempre com uma roda de conversa, um momento imprevisível onde contam os acontecimentos marcantes da semana. É nesse momento que consigo perceber as necessidades imediatas do grupo. Todas, sem excessão, se mostram fragilizadas pela ausência da família (filhos, marido, pais, irmãos...), altamente carentes e ansiosas. Em vista desse momento aplico exercícios corporais que vão de encontro às necessidades das participantes enquanto grupo homogêneo e em seguida partimos para a parte plástica, onde cada uma expressa livremente a sua individualidade através da criatividade. Fizeram já colagem, desenho livre, monotipia e mandalas. Talvez o único momento dessa luta diária a que estão submetidas que decidem por si mesmas sem receios, expressando sua individualidade e experimentado o equilíbrio. Esses exercícios plásticos servem também como diagnóstico, é onde consigo fazer uma leitura mais individualizada de cada participante, tentando, na sessão seguinte, direcioná-la à medida do possível, caso ela retorne. Uma das características do grupo é a rotatividade, o que me obriga a realizar oficinas com começo, meio e fim. Algumas pacientes nunca deixam de comparecer, mas considero que a qualquer momento podem ter alta ou não estarem dispostas a participar, já que a participação é voluntária.

A análise dos trabalhos deixa claro que a família e as relações possibilitadas por esta está no centro dos conflitos, o que é notado na representação gráfica da casa que, segundo os dicionários de símbolos de CHEVALIER E GHEERBRANT, simboliza as relações familiares, desde as mais satisfatórias até as mais conflituosas. Outra figura representada à exaustão é a árvore, que simboliza o próprio eu, o renascimento desse eu. Outra característica que se nota nos trabalhos analisados até agora é a falta de bases. Os desenhos flutuam sem chão, o que reflete o momento em que se encontram, perdidas e desorientadas, com dificuldade de contato com a realidade. Mais um indício da invasão do consciente ( realidade) pelo insconsciente (fantasia).

Com base na análise dos trabalhos, tenho buscado técnicas que possibilitem a exteriorização espontânea dos conteúdos inconscientes, de modo que possam ser compreendidos numa relação de diálogo consigo próprio. A monotipia se prestou muito à esse objetivo (verabaixo), pois utilizei tinta para tecido de secagem rápida, o que não permitiu grande planejamento mental, além de não permitir correções. Os resultados foram surpreendentes e entusiasmantes para elas que se encantaram ao entrar em contato com algo desconhecido, dominando-o. Outra atividade que se faz necessária e tem surtido bons efeitos são os exercícios de self-healing (www.self-healing.org.br),que ajudam a despertar o corpo e a mente, possibilitando uma conexão entre todas as funções do organismo. Busco também exercícios que as façam "sentir" o chão apropriando-se desse espaço de equilíbrio que pertencem e têm direito. Pretendo experimetnar a música tribal acompanhada de instrumentos como tambor ou algo similar. A maioria delas se movimenta de forma muito lenta e com alguma dificuldade, temendo existir. E existir é nada mais que exteriorizar-se por inteiro. Assim sendo, essa dificuldade está diretamente relacionada à incapacidade de lidar com os conteúdos inconscientes que se fazem presente nesse momento. Se temo exteriorizar-me contenho meus movimentos, uma vez que, se não verbalizo o corpo fala.

Abaixo, alguns trabalhos realizados até agora.


monotipia

monotipia

monotipia


pintura livre

monotipia


monitipia


pintura livre

pintura livre

Em breve, mais informações.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O que as imagens podem lhe comunicar?
Estas nasceram do desejo e da necessidade do autor,
mas pra que existam de fato e cumpram seu papel, precisam do olhar do espectador.
E esse olhar não significa apenas "ver" com os olhos. Mais que isso, é sentir-se tocado em algum ponto de modo que um diálogo se estabeleça. Assim, as imagens dizem o que o espectador quer (ou não) e necessita saber, numa relação dialógica que nos desperta para algo a mais em nós mesmos, funcionando como um canal de auto-conhecimento e crescimento.
Observe e reflita:

O QUE AS IMAGENS QUEREM LHE DIZER?

COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL 3 ( clique na imagem para ampliar)



bichos 1
carlos miguel fagundes - 1996


bichos 2
carlos miguel fagundes - 1996






bichos 3
carlos miguel fagundes - 1996

quinta-feira, 30 de julho de 2009

EU PRECISO DE MIM

pensei que precisasse
de outras vidas para viver
de aventuras,
novidades,
de outros horizontes
outras cidades.
pensei que precisasse
de vencer grandes batalhas,
viver amores eternos
do mar,
de amar...
sai pelo mundo
numa busca sem fim
pra descobrir que preciso, na verdade
é de mim.

carlos miguel -23/01/2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL 2

"espelho, espelho meu"
nanquim e aquarela sobre papel schöeller
carlos miguel fagundes - 1996

"a fuga de nenhum lugar para o lugar nenhum"
nanquim e aquarela sobre papel schöeller
carlos miguel fagundes - 1996

"A equilibrista"
nanquim e aquarela sobre papel schöeller
carlos miguel fagundes - 1996





segunda-feira, 27 de julho de 2009

ARTETERPIA E ARTE-DUCAÇÃO

meus contatos de msn receberão automaticamente todas as postagens publicadas no meu blog "ARTETERAPIA E ARTE-EDUCAÇÃO". não é necessário responder.

carlos miguel

COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL



quinta-feira, 16 de julho de 2009

CONTA GOTAS

A violência é o preço que uma sociedade paga pelo descaso à educação
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
A moça está na TV porque é bonita ou é bonita porque está na TV?
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Só estaremos preparados para fazer algo quando realmente o fizermos.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
eu sou assim: não sou nada definido, mas também não sou uma incógnita. Quem quiser me conhercer terá que começar pelas reticências. Eu sou assim...
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
O presente se torna importante à medida que o futuro chega transformando-o em algo passado nostálgico.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Eu não me contento fazer as coisas que sei. Quero me arriscar nas coisas que não sei e dominar o desconhecido.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Atrás da minha lucidez se esconde uma velha louca que tem mania de ser normal.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Adoro receber vsitas! só para ter o prazer te vê-las ir embora.

Carlos Miguel
16/07/209


MAS O QUE É, AFINAL, A CRIATIVIDADE?

Criou-se o homem!

E também o mundo onde este deveria habitar. Não o mundo ideal e perfeito, que pudesse acomodá-lo com segurança para que apenas desfrutasse o privilégio de ser ele produto da criação. Mas um mundo inóspito, repleto de perigos e obstáculos, onde este homem teria de lutar pela sua sobrevivência, enfrentando o frio, a fome, as moléstias e toda sorte de predadores.

E entre o céu e a terra, vencendo dificuldades, o homem sobreviveu, alcançando os mais altos níveis de evolução. Diversas estratégias foram armadas na busca de seu objetivo maior, a sobrevivência, e diversas armas, cada uma adaptada a uma necessidade, foram utilizadas. Mas a arma principal, responsável pela sobrevivência e evolução da humanidade e que possibilitou a construção de todas as outras armas foi a criatividade.

Sem ela o homem teria perecido e naufragado, relegando a humanidade a uma experiência mal sucedida. Mas o que é, afinal, a criatividade? Seria adaptação do homem ao meio? Ou um instinto básico de sobrevivência, já inerente à estrutura psicológica desde sua criação? Várias definições sob diversos pontos de vista têm sido utilizadas para explicar o conceito de criatividade, mas nenhuma definição parece ser condizente com o seu real significado.

Sob o ponto de vista humano, criatividade é a obtenção de novos arranjos de idéias e conceitos já existentes formando novas táticas ou estruturas que resolvam um problema de forma incomum, ou obtenham resultados de valor para um indivíduo ou uma sociedade. Criatividade pode também fazer aparecer resultados de valor estético ou perceptual que tenham como característica principal uma distinção forte em relação às “idéias convencionais”. Sob o ponto de vista cognitivo, criatividade é o nome dado a um grupo de processos que procura variações em um espaço de conceitos de forma a obter novas e inéditas formas de agrupamento, em geral selecionadas por valor (ou seja, que possuem valor superior às estruturas já disponíveis, quando consideradas separadamente).

Podem também ter valor similar às coisas que já se dispunha antes mas representam áreas inexploradas do espaço conceitual (nunca usadas antes). Sob o ponto de vista neurocientífico, criatividade é o conjunto de atividades exercidas pelo cérebro na busca de padrões que provoquem a identificação perceptual de novos objetos que, mesmo “pedaços” de estruturas perceptuais antigas, apresentam uma peculiar ressonância, caracterizada do “novo valioso”, digno de atenção. Sob o ponto de vista computacional, criatividade é o conjunto de processos cujo objetivo principal é obter novas formas de arranjo de estruturas conceituais e informacionais de maneira a reduzir (em tamanho) a representação de novas informações, através da formação de blocos coerentes e previamente inexistentes.( NÁVEGA, 2007, página. de Internet-www.intelliwise.com/seminars/criativi.htm )


Como se pode notar, todas as definições acima trazem no seu corpo derivados da palavra “nova”. Rollo May diz que para definir criatividade é preciso distinguir as pseudoformas – isto é, criatividade como estetismo superficial – da sua forma autêntica – ou seja, o processo de criar algo novo.

Qualquer definição, por mais completa que possa parecer, confunde mais que explica e serve para demonstrar que criatividade, assim como arte, são conceitos de difíceis e infinitas interpretações. Algumas abordagens banalizam o seu significado, traduzindo-o como “insight, “incubação”, “preparação”, “estalo” e outros, mostrando que a criatividade é mais fácil de ser sentida do que explicada ou definida. A respeito de definições sobre criatividade, “levavam os artistas e poetas a dizerem, com um sorriso: É interessante mas não é isso que acontece no meu íntimo durante o ato criativo”.(MAY, 1975 p. 32).

O que de concreto se nota é que a necessidade seria um dos fatores responsáveis para o desenvolvimento de impulsos criativos. “O ato criativo origina-se na luta do ser humano contra e com aquilo que o limita” .(MAY, 1975 p. 32). Um outro fator, tão importante quanto a necessidade seria a liberdade. A imposição de regras seria um fator negativo, responsável por tolher a criatividade. A própria subversão da regra já seria por si só um ato inovador e criativo. A inovação é um dos objetivos do ato criativo.

Margareth Boden divide a criatividade em duas áreas distintas: a criatividade psicológica, na qual aquilo que é inventado é novidade para a pessoa, mas não para a humanidade (ou seja, alguém já fez isso no passado) e a criatividade histórica, na qual criação é inédita em termos universais. (NÁVEGA, 2007. página de Internet ).

Criar é explorar o desconhecido. E se dispor a desbravar o desconhecido significa enfrentar o risco de errar. “Tentar e errar faz parte do processo criativo e um dos pontos básicos para ampliarmos nosso potencial criativo é justamente reconsiderar nosso ‘medo’ de errar, talvez transformando a palavra ‘errar’ em ‘ testar’” . (NÁVEGA, 2007, página de Internet ).

“Picasso dizia que “todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição”. (MAY, 1975, p. 42). Destruição de velhas formas, antigas idéias, antigos conceitos em prol de novas formas, novas organizações, novos conceitos e novas idéias. Talvez daí advenha o medo de criar uma vez que também se estaria destruindo. May diz , em seu livro A Coragem de Criar, que o ato criativo nos causa certa ansiedade, pois toda pessoa criativa está destruindo nossos sistemas bem ordenados, o que representa uma ameaça à racionalidade e ao controle exterior. Sendo assim, os dogmatistas tentam dominar o artista. (MAY, 1975, p.56) (...)

carlos miguel
16/07/2009