No meu trabalho como arte-educador no ciclo I, me vejo constantemente em contato com o universo particular que cada aluno exterioriza através da expressão artística e como essa se realiza no contexto em que se encontra. Dia desses, durante a aula de artes na 2ª série, dei pela ausência de dois alunos. Ao questionar o restante da turma sobre tais alunos, fiquei sabendo que o professor de educação física, que havia estado com eles antes de mim, os havia colocado "de castigo", impedindo-os de assistir aula. Indignado, Imediatamente sai à procura dos mesmos e os encontrei na porta da diretoria cabisbaixos e silenciosos. Imaginei o que poderia estar se passando pela mente daquelas duas crianças de semblante tão tenso e preocupado. Perguntei sobre o motivo pelo qual estavam ali e pedi que me acompanhassem até a sala para que participassem da aula. coloquei-os a par das atividades e pedi que realizassem a atividade proposta, ou seja, um auto-retrato. Ambos trabalharam em silêncio e com afinco e qual não foi minha surpresa quando me apresentaram o resultado, um dos quais apresento acima (desenho 1). O outro, infelismente, perdeu-se entre bytes e pixels, mas posso descrevê-lo enquanto não o encontro: um homenzinho, em um frágil barquinho, navegando num tortuoso mar tendo sobre sua cabeça alguns raios negros maiores que ele. (desenho 2). Abaixo, uma análise de ambas as representações:
no desenho 1, o autor nos comunica da sua necessidade de apropriar-se - e ele se apropria através da expressão artística - da liberdade da qual fora momentaneamente privado. No seu desenho ele realiza o desejo de brincar feliz, em plena harmonia e equilíbrio com o seu mundo. Nos conta ainda do seu poder - expresso através da capa que fez questão de frisar - em trasmutar-se de "condenado" a ouvir impropérios e xingamentos da diretora em super-herói liberto, capaz de voar livre de peito, sorriso e braços abertos. Seria um abraço de agradecimento ao seu redentor, no caso eu?
já no desenho 2, o autor tem a necessidade de elaborar seu momento através da representação do seu estado emocional: um serzinho fragilizado diante da tormenta, tendo à sua cabeça as espadas da culpa e do medo, prestes a destruí-lo como merecimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
obrigado pelo seu interesse!sua sugestão, opinião ou crítica certamente estará contribuindo para o aperfeiçoamento deste blog.